Fonte da foto: banco de imagem/Istock
O calor do verão chegou e acredito que todos conseguem sentir os efeitos das temperatura elevada na rotina de trabalho e no dia a dia. Muitas vezes, fica até difícil de se concentrar com o ambiente abafado, e algumas pessoas podem até ficar estressadas nessa situação. Porém, existe uma consequência do calor que afeta diretamente a vida das transportadoras e daqueles que frequentam as rodovias brasileiras: os acidentes provocados por incêndios nas estradas.
Dados publicados, no dia 10 de janeiro, pelo Serviço de Mudança Climática Copérnico da União Europeia (C3S) mostraram que os últimos sete anos foram os mais quentes da história. E outra curiosidade: o ano passado ficou em 5º lugar na lista. Por melhor que sejam as intenções dos líderes mundiais com a assinatura do Acordo de Paris e organização de encontros internacionais para falar sobre o assunto, como a COP 26, ainda precisamos nos esforçar bastante para equilibrar o clima mundial e reduzir a emissão de poluentes na atmosfera.
No Acordo aprovado em 2015, as nações se comprometeram em alcançar a meta de reduzir os gases estufa e estabilizarmos a temperatura global em 1,5 ºC. Todavia, o C3 S registrou, em 2021, a quantidade de 414 ppm de gás carbônico no ar, um aumento de 2,4 ppm em relação a 2020.
Se esses efeitos já são sentidos, literalmente, na pele pelos animais e os seres humanos, as cenas recentes de casas destruídas e de famílias arrasadas pelas enchentes na Bahia ilustraram os problemas do aquecimento global e de um planejamento urbano ruim. Com aqueles que atuam com o transporte, essa situação além de assustadora, também é perigosa. O clima seco influencia diretamente para o surgimento de incêndios nas estradas. E no caso de produtos inflamáveis, qualquer exposição ao fogo ou ao calor pode gerar desastres.
Informações coletadas pela Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp) também identificaram como consequência dos incêndios os acidentes ocasionados pela neblina da fumaça. Os números, coletados desde 2019, mostraram que ocorrências dessa categoria cresceram 57% e 21%, respectivamente, entre janeiro e setembro de 2020, em comparação ao ano anterior.
Parte do trabalho com logística envolve pensar nessas adversidades antes mesmo de colocar o caminhão para rodar. E esse é um bom exemplo de como o nossa função como transportadores é tão desafiante, afinal, surpresas aparecem de formas diferentes e podem chegar a qualquer momento. Algumas, por acontecerem com certa frequência, são até previsíveis, outras não.
É por isso que o investimento em tecnologia tem sido um tema recorrente nos estudos e debates sobre a inovação no transporte rodoviário de cargas (TRC). Nesse sentido, temos muito a absorver da contribuição e ajuda de especialistas e pesquisadores de outras áreas, sobretudo do setor público. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), por exemplo, possui um site com informações completas a respeito de onde está acontecendo alguma queimada. Dessa forma, ao projetarmos a rota de entrega, sabemos quais percursos evitar, tanto antes quanto durante e após o serviço.
Quem melhor se beneficia dessa tendência, além do próprio caminhoneiro, é o setor de Gerenciamento de Riscos (GR), pois eles têm em mãos um conjunto de dados perfeitamente organizados para facilitar o trabalho deles. E para nós, diretores e gestores da empresa, alivia muito os nossos custos, porque, uma vez que os gastos com o GR já estão inclusos no orçamento, não precisamos solicitar quantias adicionais.
O ideal é sempre se programar com antecedência, mas, como mencionei anteriormente, nem sempre podemos contar com previsibilidade. Sempre acontecerá algo inesperado e precisamos estar prontos para um eventual incêndio no caminho. Nesses casos, devemos mudar imediatamente a rota e contatar o contratante para avisar da alteração do local de entrega. A identificação do veículo através das tecnologias de rastreamento permite que façamos isso com rapidez e eficiência, mas não podemos esquecer do preparo emocional.
Manter a calma, paciência e a concentração para não se desesperar quando algo dessa natureza surge não é fácil. Esse é o motivo que motiva o segmento a enfatizar tanto os extensos treinamentos anuais para o cumprimento dos protocolos de segurança, assim como o rigor no controle interno de avaliação e testagem do comportamento e saúde dos colaboradores (como os exames toxicológicos).
Também contamos com a ajuda da polícia rodoviária e das concessionárias para a instalação de faixas de identificação da estrada e de sinalizadores de velocidade, produção de campanhas de orientação aos motoristas e a fiscalização da conduta dos condutores, independente do tipo de veículo ou serviço realizado. Essa combinação de estratégias entre todos os agentes envolvidos, somado à introdução de medidas sustentáveis e à consciência ambiental no setor privado, mantém a esperança de termos décadas menos poluentes, mesmo que o aquecimento global esteja batendo em nossas portas.
Gislaine Zorzin, diretora administrativa de novos negócios na Zorzin Logística
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